Jessica Roberts
Há anos trabalho com crianças e sempre me impressiono com a paixão que têm pela vida, como adoram aprender e como são perseverantes. Sim, perseverança. Pode parecer um pensamento novo, já que as crianças (especialmente as mais jovens) tipicamente têm dificuldade de se concentrarem por muito tempo, o que pode ser atestado por qualquer mãe que já tentou fazer seu filho de dois anos ficar sentado até o fim de uma refeição. Entretanto, há momentos na vida de cada criança em que o desejo inato de se desenvolver a leva a aprender uma habilidade, como apanhar um objeto pequeno com seus dedinhos roliços, engatinhar ou caminhar. Esses aprendizados requerem grande concentração, esforço da parte da criança e muito tempo, comparado ao pouco tempo que ela já viveu. Também exigem bastante fisicamente dos músculos que recém começaram a aprender a coordenação e mal têm força para sustentar o peso da própria criança. Recentemente, quando me mudei para este país, passei por um período difícil de adaptação. Meus amigos e colegas de trabalho de onde eu me encontrava anteriormente tinham se tornado como minha família. Doeu deixá-los e senti falta das “minhas” crianças — os filhos de meus colegas com os quais trabalhava. Tentei me dedicar a novos aspectos do nosso trabalho voluntário, mas senti que não fazia nenhum deles bem. Em um determinado momento, por exemplo, envolvi-me em uma campanha para arrecadar brinquedos e livros para crianças carentes, mas como o início foi fraco, desanimei e tive vontade de desistir. Rafael, o bebê de uma colega, fazia algum tempo tentava engatinhar. A cena se repetia havia semanas: apoiava-se nos braços trêmulos e conseguia ficar de quatro, mas não saía do lugar. Sobre as mãos e os joelhos rechonchudos, o garoto se balançava para frente e para trás, mas não avançava. Ele não conseguia se deslocar para chegar mais perto de um brinquedo que estivesse poucos centímetros fora de seu alcance, por mais que se embalasse de quatro ou se remexesse apoiado na barriga. Quando muito, conseguia empurrar-se para trás, o que o deixava ainda mais longe de sua meta. Certo dia, quando eu cuidava dele, depois de dar tudo de si em vão para andar de gatinhas, olhou para mim com uma expressão de quem estava frustrado e que dizia “Pegue-me no colo”. Eu podia me identificar com suas dificuldades, pois me sentia igualmente frustrada com a minha situação, mas sabia que todo aquele esforço estava fortalecendo seus músculos e lhe ensinando sobre seu corpo. Então eu o peguei, abracei-o, procurei animá-lo um pouco, mas o recoloquei no chão. Ele tinha de aprender a engatinhar por si próprio; eu não podia fazer isso por ele. Com o tempo, ele se tornaria mais forte e pegaria o jeito. De repente, percebi a grande semelhança entre mim e aquela criança. Eu estava tentando aprender algumas habilidades, esforçava-me para dominar o idioma e entender a cultura deste país, e minha reação natural tinha sido olhar para Jesus e dizer: “Pegue-me no colo e me salve de tudo isso!” Mas Ele sabia que aquele tempo de aprendizado, por mais difícil que fosse, me fortaleceria. Por isso, embora Seu amor estivesse sempre presente para me animar, eu deveria me esforçar e perseverar. Aquilo me deu uma nova perspectiva da minha situação. Se aquela criança era capaz de perseverar, eu também seria! E quando ficasse cansada de tentar ou frustrada com a aparente inutilidade dos meus esforços, buscaria em Jesus o amor, o ânimo e força para continuar a aprender as lições que a vida me trouxesse. Rafael agora engatinha todo feliz para lá e para cá e está começando a tentar ficar de pé. Também estou dando meus primeiros passos no aprendizado de certas habilidades e expandindo meus horizontes. Sei que, logo, ambos estaremos de pé e correndo, se simplesmente continuarmos tentando.
Extraído da revista Contato. Usado com permissão.
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Peter Story
Hoje ouvi o demo de uma música. Já ouvi muitos antes, mas esse me parecia excepcionalmente cru. Tentei não transparecer a minha irritação. Antes de apertar o play, meu amigo me avisara que era um demo, mesmo assim não estava preparado para aquilo. Eu torcia para ele não reparar no incómodo que me causara. Depois de alguns instantes de angústia silenciosa, Jesus conseguiu falar comigo. É apenas um demo, foram Suas palavras na minha mente. Eu sei, respondi, mesmo assim é difícil de ouvir. Você precisa ouvir como um músico a ouviria — como ela será um dia, não como está neste momento. É uma abordagem interessante. Claro, e é a melhor das abordagens. Na verdade, é a que uso ao observá-lo. Ai! Está bem, vou tentar. Fiquei surpreso ao constatar que funcionou imediatamente. Quando procurava ouvir além dos ruídos de fundo, da falta de ritmo e das notas desafinadas, a canção era muito boa. Descobri que a melodia era linda e reconfortante, e se encaixava perfeitamente na letra. O produto final me parecia promissor, e disse isso ao meu amigo. Na vida, as pessoas erram; dizem ou fazem coisas da maneira errada, e às vezes repetem os erros gerando resultados catastróficos. Mas é só por sermos hoje “demos” muito crus nas mãos de Deus. Há muito em cada um de nós que Ele ainda precisa consertar, e vai levar tempo. Quando conseguimos ver nossos filhos por essa ótica e tentamos vê-las, não como são hoje, mas como serão um dia, todos saem ganhando. Eles passam a ter espaço para serem menos que perfeitas, aprenderem dos seus erros e acertos, e, assim, conseguirem crescer. Amor — O Catalisador O amor não é cego; tem um olho espiritual a mais que vê o bem e as possibilidades que outras pessoas não conseguem ver. - David Brandt Berg Se tratar um homem como se já fosse aquilo que tem potencial para ser, fará dele o que deveria ser. - Johann Wolfgang von Goethe Todos têm qualidades. Identifique nos outros coisas específicas pelas quais pode elogiá-los sinceramente, e seja generoso em seu louvor. Se não conseguir encontrar nada, olhe mais a fundo. Peça a Deus que lhe mostre as qualidades da pessoa. Elas certamente existem, e Ele vê coisas dignas de louvor e de amor em todos. Quanto mais difícil for encontrar algo especial em alguém, mais gratificante será para ambos. Se conseguir encontrar nem que seja um pequeno traço de ouro, ele o levará a um grande filão. Seus filhos se abrirão com você, e você descobrirá coisas maravilhosas sobre elas. - Shannon Shayler Misty Kay Relatório de pesquisa Recentemente, cientistas fizeram uma fascinante descoberta a respeito de um parasita pouco compreendido. O organismo foi denominado nega-bug por causa do efeito negativo que tem no bem-estar mental e emocional da pessoa infectada. Apesar de não poder ser visto a olho nu, a infestação é facilmente identificada pelos sintomas peculiares. O parasita se instala na membrana macia do ouvido interno do hospedeiro. Suas minúsculas asas vibram em uma frequência indetectável pelos humanos, mas que interfere com as ondas cerebrais e deixa a vítima se sentindo confusa e deprimida. De um modo geral, é muito difícil para os infectados distinguirem seus próprios pensamentos dessas vibrações. Se não estiver muito atenta, a pessoa pode ser facilmente levada a crer que esse zumbido é sua própria negatividade. Em casos mais sérios, o nega-bug pode se deslocar até o cérebro de seu hospedeiro e em pouco tempo procriar. Quando isso ocorre, as crias são rapidamente transportadas pelo ar através das palavras negativas do hospedeiro e, dessa forma, contaminam os outros. O nega-bug é uma peste terrível e o tratamento deve começar ao primeiro sinal de contágio. O parasita deve ser desalojado e retirado do ouvido de sua vítima. Em casos típicos, o tratamento pode ser administrado pelo próprio doente. Ele deve inclinar a cabeça na direção do ouvido em que o nega-bug se instalou, pular vigorosa e repetidamente no mesmo lugar, enquanto dá pancadas no lado oposto da cabeça. Se não estiver claro em qual ouvido ele se encontra, o procedimento deve ser realizado em ambos os lados da cabeça. Se houver mais de um nega-bug, talvez seja necessário repetir o processo. Em casos extremos, pegue um travesseiro e bata com ele na cabeça da vítima, no lado oposto ao que o nega-bug se encontra. Se isso também falhar, talvez seja necessário assustá-lo para tirá-lo do seu esconderijo. Jogar água gelada na cabeça do paciente quase sempre produz esse resultado. Para prevenir nova infestação, faça o ex-infectado usar fones de ouvido para que ouça boa música e leituras inspiradoras. Além disso, deve fazer exercícios de positividade. (Aviso: Tratamentos de pancadas com travesseiros e água gelada devem apenas ser ministrados por adultos qualificados. Esses procedimentos não são recomendados para crianças, para evitar ferimentos e danos à propriedade.) Estudo clínico Em um estudo clínico envolvendo as minhas crianças e minha filha adolescente, descobri que o tratamento básico é bastante eficiente para retirá-los de seus acessos de autocomiseração e outras emoções negativas. Certo dia, por exemplo, entrei na cozinha e encontrei minha filha de 13 anos chorando, debruçada sobre uma pia cheia de louça suja. Fui compreensiva e disse: “Sinto muito que você não esteja feliz. Quero que saiba o quanto a amo. Na verdade, eu a amo tanto que tenho de fazer isto.” Revelei então um travesseiro que havia escondido atrás de mim, comecei a agir. Ela riu ao tentar evitar o ataque. Logo após o tratamento, a paciente demonstrou sinais de uma recuperação milagrosa. Ela voltou a lavar a louça, mas, para a minha preocupação, logo teve uma recaída. Era a hora para o segundo passo. Decidi usar a água gelada. Ela percebeu o que estava acontecendo, mas não achou que eu realmente faria aquilo. Depois de uma breve perseguição em volta da casa, eu a encurralei e… splash! Até ela achou engraçado. Após algumas risadas, a louça estava quase lavada. Como sou mãe de uma adolescente emotiva, passei muitas horas argumentando, bajulando, confortando e orando tentando de diversas maneiras de tirá-la de suas crises hormonais de melancolia. Recentemente descobri, porém, que esse tratamento contra o nega-bug é bem mais eficaz e rápido. Uma vez que os alvos dos nega-bugs percebem o perigo, aprendem a reconhecer os riscos de infestação, adotam medidas preventivas e deixam de entreter pensamentos negativos ou destrutivos. É melhor prevenir que remediar. Cuidado com o nega-bug! Publicada originalmente na revista Contato. Foto: David Castillo Dominici / FreeDigitalPhotos.net
Aquela menininha sardenta de lindos cabelos castanhos, a imagem da inocência, devia ter seis anos de idade. A mãe estava de bermuda cáqui, uma blusa de tricó azul clara e tênis. Tinha mesmo cara de mãe.
Chovia a cántaros, e a água transbordava pelas calhas de tanta pressa para chegar ao solo. No estacionamento ali perto as bocas-de-lóbo estavam transbordando de tão cheias ou por estarem entupidas. Poças enormes pareciam uns laguinhos perto dos carros ali parados. Todos estavam ali em pé debaixo da marquise ou dentro de uma loja, mas logo à porta. Estávamos esperando a chuva passar. Alguns com paciência, outros irritados porque a natureza bagunçara o seu dia tão atarefado. Eu sempre fico hipnotizado quando vejo chuva. Deixo-me enlevar pelo som e pela imagem dos céus tirando todo o pó e limpando o mundo. Lembranças da minha infáncia correndo e chapinhando nas poças, todo feliz, também vêm à memória, aliviando-me das preocupações do dia. A vozinha dela era tão meiga que quebrou o transe hipnótico no qual eu me encontrava. — Mamãe, vamos sair correndo na chuva. — O quê? — perguntou a mãe. — Vamos sair correndo na chuva! — repetiu. — Não, querida. Vamos esperar amainar um pouco. A menininha esperou mais um minuto e repetiu o pedido, mas desta vez declarando: — Mamãe, vamos sair correndo na chuva. — Mas nós vamos ficar ensopadas, — respondeu a mãe. — Não vamos não, mamãe. Não foi o que a senhora disse hoje cedo, — completou a menininha puxando o braço da mãe. — Hoje cedo? Quando foi que eu disse que podíamos sair correndo pela chuva sem nos molharmos? — A senhora não se lembra? Quando estávamos falando com o papai sobre o cáncer dele, a senhora disse: “Se Deus nos ajudar a passar por isto, pode nos ajudar a passar por qualquer coisa!” Todos ali perto ficaram calados. Só se ouvia o barulho da chuva. Ninguém dava um pio e ninguém saiu dali ou chegou durante os minutos seguintes. A mãe parou um pouco, pensando no que dizer. Algumas pessoas talvez dessem uma risada de tal declaração e chamassem a atenção da criança por estar sendo tola. Outras talvez até ignorassem o que fora dito. Mas aquele era um momento assertivo na vida de uma criança, quando uma confiança inocente pode ser alimentada e transformar-se em fé. — Querida, você está certa. Vamos sair correndo pela chuva. Se Deus deixar a gente se molhar, bem, então é porque precisávamos de um banho. E lá foram elas correndo. Todos ficaram observando, sorrindo e rindo enquanto elas desviavam dos carros e pulavam para não pisarem nas poças. Elas colocaram as sacolas de compras sobre a cabeça só por medida de precaução. Ficaram ensopadas, mas umas outras pessoas cheias de fé foram atrás, gritando e rindo como criancinhas até os seus carros, inspiradas pela fé e pela confiança da mãe e da filha. Desejo acreditar que em algum momento na sua vida, aquela mãe vai se lembrar dos momentos que passou junto com a filha, capturados em fotos coladas no livro de recortes repleto de lembranças queridas — as duas correndo pela chuva, acreditando que Deus as ajudaria a não se molhar. A propósito, naquele dia eu também saí correndo pela chuva. E me molhei. Precisava de um banho! Autor anónimo. Foto: Clare Bloomfield/FreeDigitalPhotos.net Jessica Roberts Chego ao fim de um longo dia que passei cuidando de crianças doentes. Não, não são meus filhos. São de um casal cujo trabalho muitas vezes os chama a atender às necessidades de outros em detrimento do tempo que passariam juntos em família. Sou a professora das crianças, e normalmente gosto de ser uma mãe substituta. Mas não esta semana. - Estou cansada, desgastada e estressada - reclamei. - Estou atrasada com a louça e a lavanderia, e perdendo um passeio à praia com meus amigos para ficar cuidando de uma turma de crianças com tosse, nariz escorrendo e manha. Não durmo bem nem respiro um pouco de ar fresco faz dias. Não nasci para isso. Não sou a mãe delas. Mães têm suficiente paciência, altruísmo e amor incondicional por seus filhos para agüentarem tudo isso! Eu não tenho. Essas crianças estão me deixando maluca.” Um barulho na escada me diz que alguém acordou. É a Suzi, de dois anos. - O que foi, Suzi? Ela para por um segundo, depois corre para mim abraçando apertado o meu pescoço, e diz: - Eu te amo! Volta então correndo para cama. Ouço o pequeno Martin, de quatro anos se mexendo em sua cama, vou então ver se está bem. Ele abre um olho e, ainda sonolento, diz: - Você é a melhor professora do mundo! Ai, o sorrisinho que ele dá quando diz isso… Penso naquele amor tão puro, do fundo do coração que eles têm, e em como me adotaram. Lembro dos risos, os abraços, as coisas que descobrimos juntos. De repente, não estou mais tão cansada. Lembro o que Jesus disse sobre amar os pequeninos. “Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes.” (Mateus 25:40). Vai ser o melhor dia que já tivemos! Aposto como tem um jeito de montar um circo de três palcos no quarto dos doentes. E quando chegar aquela horinha chata, antes do jantar, em que todos estão cansados, vou fazer uma oraçãozinha, pedindo um pouco do amor incondicional de Deus. E vou agradecer-Lhe pela bênção de ter estas crianças das quais cuidar. © A Família Internacional De Angela Koltes
Em um dia nublado de inverno, fui com alguns amigos passar a tarde na escola para cegos perto de minha casa. Era um daqueles “domingos como todos os outros”, exausta de toda a trabalheira da semana e ansiando o conforto da minha cama quentinha e desejando ficar descansando em casa. Não tinha a mínima vontade de sair; afinal, praticamente todo o mundo estaria passando um tempinho consigo mesmo e tirando o dia de folga. Mas, como já havíamos prometido ir à escola para alegrar e divertir um pouco as crianças naquela tarde solitária de domingo, tínhamos que ir. Nos fins de semanas, a maioria das famílias dos alunos vai buscar os filhos, que passam a semana na escola. De modo que havia algumas crianças naquele domingo, e cada uma delas mostrou como estava feliz por termos ido, nos recebendo com muitas expressões de alegria. Não tínhamos um plano, mas levamos um violão, chocalhos e bongos na esperança de levar um pouco de alegria para seus mundos tão sem cor. As crianças se juntaram à nossa volta, ouvindo a música e tentando entender de onde havíamos vindo e como éramos. Algumas tinham seus próprios instrumentos, e a maioria tem muito talento musical, e nos acompanhou, mostrando entusiasmadamente o que sabia. Em meio a todo aquele barulho e atividade, notei uma garotinha de cabelo curto sentada timidamente longe das outras crianças. Eu me perguntei quem seriam seus pais e por que não haviam vindo buscar uma garotinha tão linda. Fiquei zangada, pensando por que aquela criança viveria cega, impossibilitada de enxergar. Enquanto a observava, a primeira coisa que chamou a minha atenção foi seu sorriso radiante. “Como aquela garotinha, em sua condição tão triste, podia ser tão feliz?” Perguntava para mim mesma. A professora que acompanhou o meu olhar, começou a nos contar a história da garotinha. Seda tinha sete anos e fizera uma operação no cérebro dois anos antes. “Eu podia ver as árvores, os pássaros, o rosto do médico, tudo.” Acrescentou, ao ouvir sua professora, “Mas depois que eu acordei, não podia mais ver nada.” Foi como se uma pedra houvesse caído do alto bem no fundo do meu coração! Não conseguia mais apenas observar a garotinha em silêncio. “Mas eu sou tão feliz!” exclamou, rindo e brincando com as mãos. “Por que você é feliz, Seda?” perguntou sua professora. “Olha”, começou mansamente, “Mesmo que eu não possa mais ver aqui nesta terra, vou poder ver de novo no céu—e mal posso esperar por esse dia.” Fiquei com os olhos marejados, e sabia, ao olhar ao meu redor, que meus amigos estavam sentindo o mesmo que eu. Seda ficou o resto da tarde perto de mim. Ela pegava a minha mão e me guiava pela escola; sentava-se no meu colo e conversava sobre tudo o que ela gosta de comer, cada verdura, legume e fruta, e por quê. Ela descobriu um grande prazer nos sabores e sons ao seu redor. Era como se houvesse esquecido que não podia usar a sua visão. Quando voltei para casa aquela noite, o rosto de Seda não saía da minha cabeça. O que será que aquela menina via no seu mundo escuro que a fazia tão feliz? Depois, quando eu sentia o peso de um dia difícil de trabalho, não importava o que estivesse acontecendo no momento, só de lembrar de Seda, eu sabia que não tinha do que reclamar. Às vezes, os dias escuros pelos quais somos forçados a passar parecem insuportáveis e não vemos nenhum raio de esperança. Batalhamos cada dia ao menosprezarmos o que vemos ao nosso redor. Contudo, sei que se apenas me esforçar para pensar como aquele anjinho cuja visão lhe foi tirada, e olhar para o céu como ela fez, poderei louvar por cada dia que me foi dado nesta terra. Sempre que me sinto tentada a amaldiçoar a escuridão e criticar o que vejo ao meu redor, o sorriso daquela garotinha me vem à lembrança. Penso na fé que ela tem e na visão que ela tem para ver a luz do amanhã, e sei que se ela consegue fazer isso, eu com certeza consigo também. Uma coisa é certa: criar adolescentes é um dos desafios especiais da vida. É uma fase difícil e muitas vezes o jovem “divide” essas dificuldades com as pessoas ao seu redor.
A atitude tantas vezes aparentemente ríspida, desrespeitosa ou rebelde pode intimidar e deixar os pais confusos e sem saber em que erraram. É nesse momento que muitos, sem saber como ajudar os filhos, cometem o trágico erro de se retraírem, justamente quando os jovens, no fundo, estão desesperados por orientação, encorajamento, amor, apoio, compreensão e direção. Os adolescentes têm uma enorme necessidade de se sentirem seguros e amados incondicionalmente. Precisam saber que alguém percebe seus problemas e se interessa o bastante por eles para ajudá-los a qualquer custo. Decididamente não é uma jornada fácil, mas os pais que persistem, continuam amando seus filhos e procuram manter contato com eles têm maiores chances de ajudá-los a vencer do que aqueles que assumem um papel menos ativo. Relacionamos aqui maneiras testadas e comprovadas para melhorar o relacionamento com seu adolescente:
Jo Dias “Horrível!” Esse seria o único adjetivo capaz de descrever como eu me sentia naquele dia. Meu marido tinha viajado novamente! Lá estava eu, sozinha com nossos quatro filhos. O dinheiro era pouco, eu estava mal de saúde e minha adolescente passava por uma crise existencial. Como eu orava pedindo ao Senhor para aliviar o meu fardo! Observando pela janela a dança das árvores ao sabor de uma brisa suave, reparei um esquilo que ia de árvore em árvore, subindo e descendo, sem demonstrar qualquer tipo de preocupação. Sentia inveja da criaturinha quando, de um momento para o outro, decidiu mudar de tática. Em vez de subir e descer as árvores, começou a pular de uma para outra até chegar à última no terreno, de onde ficou olhando para aquela que seria sua próxima escala, posicionada a uma distância maior do que as que vinha superando até ali. Pelo jeito, decidia se saltaria ou não. Nas minhas contas, o vão entre ele e aquela árvore era duas ou três vezes maior que os anteriores no seu trajeto. Sem dúvida, um desafio e tanto. “Não acredito que você vá tentar, bichinho!” Sussurrei. Desinteressado em minha opinião, percorreu o galho em que estava algumas vezes, fazendo a maior barulheira, até que parou, observou a distância, armou o salto e se atirou. Senti vontade de virar o rosto, pois o desfecho não poderia ser bom! Errada! O esquilo cruzou pelos ares o enorme espaço e posou tranquilo no destino desejado, com a graça e a glória que nascem da certeza de haver alcançado uma superação que já lhe pertencia de antemão. Ele emitiu seu barulhinho de vitória e escalou apressado para o alto da árvore, como se subisse um pódio! Naquele momento, vi onde estava pecando: minha preocupação com meus problemas, com a distância entre as árvores, transformaram-se em medo de me lançar e voar para o outro lado. Perdera a fé nAquele que me criou, no meu Salvador e melhor Amigo. Aquele esquilo tagarelando feliz no topo da árvore me ajudou a ver que o Senhor havia atendido à minha oração —não por um milagre espetacular, mas pelo exemplo de um pequenino esquilo feliz. O mesmo Deus que cuidava dele também cuidaria de mim. Extraído da revista Contato. Usado com permissão. Greg Lucas
( Comunidade dos Deficientes é uma comunidade online para pessoas deficientes ou com enfermidades) A tragédia de ter uma deficiência não é a deficiência em si, mas sim o isolamento que cria. Essa foi uma das lições mais importantes para a nossa família. Infelizmente, aprendemos da maneira difícil. Mas lições difíceis muitas vezes oferecem um insight bem maior, e nos últimos anos temos tido a maravilhosa oportunidade de adquirir muita sabedoria com diferentes famílias em diferentes comunidades. Ainda são muitas as descobertas a serem feitas ao longo desta jornada, mas colocamos aqui pelo menos 7 muito úteis que aprendemos com a comunidade de deficientes e que fez uma enorme diferença na nossa família. 1. Deus é soberano e bondoso. Quando você tem um filho extremamente deficiente, é essencial entender a soberania de Deus agindo na sua família. As Escrituras afirmam que o seu filho não veio por acaso nem o seu nascimento foi uma tragédia, mas sim uma obra planejada com esmero e cuidadosa e maravilhosamente montada antes da fundação da terra (Salmo 139:13–17; Efésios 1:3–12). Deficiência não é uma maldição, mas sim a bondade e a graça de Deus ampliadas de maneiras que uma família comum nunca tem a oportunidade de vivenciar. 2. Você veio a esta comunidade por uma razão. Demorou bastante para eu entender o propósito e o potencial no sofrimento e nas dificuldades da nossa família – até que comecei a compartilhar nossas experiências. A partir daí, 2 Coríntios :3–7 tomou vida. O sofrimento nos leva à intimidade de Deus, onde podemos receber o mais doce consolo. Mas não somos consolados para ficarmos confortáveis, mas para nos tornarmos consoladores. Cada episódio na experiência da nossa família com a condição de deficiência serviu para Deus nos equipar com Sua graça e a compartilharmos com aqueles que precisam desesperadamente do Seu consolo. 3. A deficiência amplia nossa visão para sentirmos alegria nas mínimas coisas. A maioria das famílias com um membro deficiente comprova que uma das suas maiores vitórias foram os momentos normais e tidos por garantidos em uma família típica. Lembro-me da primeira vez que nosso filho usou um banheiro público (aos 17 anos de idade). Tínhamos acabado de entrar no Walmart e Jake segurou minha mão e me levou ao banheiro masculino. Baixou as calças e tentou urinar no vaso sanitário – mas errou completamente o alvo. O assento, o chão e o box ficaram encharcados… mas pelo menos ele não fez pipi nas calças! Nós rimos, batemos palmas, gritamos vivas e louvamos a Deus dentro de um cubículo cheio de urina no banheiro de uma loja Walmart! A maioria das pessoas não poderia entender a imensidão da vitória que conquistamos aquele dia. Mas a deficiência geralmente nos dá uma visão 20/20, de modo que vemos o que outros não conseguem ver. É um dom maravilhoso! 4. Comunidade ajuda a dar a tão necessária perspectiva. Como mencionei antes, o perigo da deficiência é o isolamento. O perigo do isolamento é idolatria (sim, nossos filhos deficientes podem se tornar ídolos). A bênção da comunidade é a perspectiva. Todos nós precisamos de perspectiva para não entrarmos em autocomiseração e egocentrismo. Exatamente quando pensa que ninguém na terra poderia ter uma situação mais difícil do que a da sua família, encontra uma mãe solteira com gêmeos autistas. E exatamente quando uma mãe solteira acha que não consegue dar mais um passo, ela conhece uma avó que cria a neta de 10 anos com síndrome alcoolica fetal. A avó observa o jovem casal tentando alimentar uma criança sem reação por meio de sonda no intervalo de convulsões. Essas famílias estão aprendendo algo extremamente valioso entre si – a perspectiva nos faz olhar para fora. E na comunidade, a deficiência se torna um ministério. 5. Homens expansivos geralmente são a minoria. Apesar de nem sempre ser o caso, muitas vezes, quando se trata de liderança familiar, as mulheres parecem ser mais expansivas na defesa dos filhos deficientes. A tenacidade de uma mãe parece ser uma reação natural à deficiência da criança (Com a “mamãe ursa” não se mexe), mas quando a tenacidade vem da alienação ou decepção do pai, pode enfraquecer a estrutura familiar. Uma família com um membro deficiente precisa de um pai em quem se possa depender. Essa condição muitas vezes se cultiva e fortalece por meio do contato com outros homens na comunidade de deficientes. 6. Quando o casamento fica em segundo plano diante da deficiência, ele acaba ficando no último lugar. Muitas vezes já foi dito que “a melhor maneira de amar os seus filhos é amando o seu cônjuge”. Pouquíssimos casais admitiriam negligenciar o princípio contido nessa verdade, mas muitos o negligenciam na prática. Boas intenções sem aplicação assertiva vai corroendo o casamento. Cuidar constantemente de um filho deficiente, somado a todo o trabalho para cuidar dos outros filhos em casa, somado às horas extra para pagar tratamento médico e terapias, somado ao estresse, à depressão e ao cansaço, deixam pouco tempo para a manutenção da relação conjugal. Um casamento sem a devida manutenção é como um carro vazando óleo. Mais cedo ou mais tarde os cilindros deixam de funcionar, o motor funde e o dano é irreversível. Faça o que for preciso para incluir tempo de qualidade com o seu cônjuge. Homens, não esperem a sua esposa fazer contato, tomem a frente. Pode ser algo tão detalhado como planejar ir a um lugar para descanso e acrescentar uma noite para namorar toda semana, ou tão simples como sentarem-se juntos no sofá ao final do dia rindo (ou chorando) de tudo o que aconteceu naquele dia. Além da intimidade diária com o Senhor e a Sua Palavra, essa é a coisa mais importante que podem fazer para evitar que a sua família se torne parte de uma triste estatística. 7. Uma criança com um irmão deficiente é tudo menos uma criança típica. Quanto mais tempo passo com irmãos de deficientes, mais percebo que essas crianças não são nada típicas. Já observei, impressionado, irmãos se envolverem em situações difíceis, no mesmo nível de soldados que realizaram atos heroicos, bombeiros e policiais. Já vi adolescentes sem graça descobrirem um dom extraordinário e uma vocação como cuidadores cheios de compaixão. E muitas vezes, quando estava para sentir pena de um desses típicos irmãos de um deficiente, o Senhor me cutucou e deu uma leve bronca: “Preste atenção. Estou fazendo algo incrível na vida desta criança, e transformando-a na imagem e semelhança do Meu Filho”. Nenhuma escola, pública ou particular, consegue ensinar as lições de vida que se aprende na escola da deficiência. Posso dizer sem hesitação, que os meus filhos serão pessoas melhores por causa do seu relacionamento com um irmão deficiente. Viver com Jake não só os preparou para as piores situações, mas os equipou com uma profunda sensibilidade para reconhecer a mão de Deus agindo em suas vidas nos mínimos e mais sutis detalhes. O irmão deles tem sido um presente extraordinário para eles! As lições aqui mencionadas são tudo menos completas. Elas são contínuas e dinâmicas. A busca desesperadora e a revigorante descoberta de cada pérola de sabedoria fortalecem a nossa família e nos equipa a ministrar para outros. Se estiver lendo isto e for um membro novo da comunidade de deficientes, bem-vindo à família! É uma jornada gloriosa, maravilhosa, arrebatadora, que abrirá os seus olhos para as coisas mais preciosas na vida, e o aproximará cada vez mais da preciosa verdade por toda a eternidade. De http://sheepdogger.blogspot.com/2012/02/7-lessons-from-community-of-disability.html. Megan Dale Era seis e meia da manhã. Eu tinha acordado cedo e a primeira cena com a qual me deparei foi uma chuva torrencial no dia que planejáramos fazer um passeio em família. A chuva não me incomoda. Com certeza a terra estava precisando. Da janela, vi um pardalzinho pulando de um lado para o outro, atento à terra empapada, na esperança de encontrar alguma minhoca quase afogada com a qual se banquetear. Naquele momento, me senti como a coitada da minhoca. Fazia meses que nuvens escuras aos poucos cobriram os céus da nossa pequena família. Nosso caçula não estava crescendo no ritmo previsto e esse atraso o deixava chateado e explosivo, afetando sua felicidade no dia-a-dia e, às vezes, na “hora-a-hora”. Não era raro ele acordar chorando, à noite. Normalmente ele era um menino dócil, sensível, carinhoso e cheio de alegria. Mas precisávamos entender melhor suas dificuldades para atendermos suas necessidades de crescimento, e isso era para já, enquanto ainda era jovem e maleável, antes que os efeitos secundários e, às vezes, mais trágicos da baixa auto-estima e depressão invadissem aquela vida em tão tenra idade. E como se não bastasse, fazia quatro dias que meu marido e eu ficáramos sabendo que seu emprego estava com os dias contados, o que significava procurarmos um novo trabalho e também outra casa. No passado, seria para mim uma oportunidade de me lançar nos braços do futuro desconhecido, percorrer o mundo perseguindo meu destino aonde a brisa me levasse. Mas agora eu estava no limiar de uma mudança maior em um momento crucial na vida do meu filho. Quatro dias pareciam quatro anos, e a cada hora eu me agarrava a fios de esperança na forma de um versículo bíblico ou de alguma citação inspiradora, como se fossem cordas salva-vidas em uma enchente. Muitos grandes homens e mulheres ao longo das eras enfrentaram períodos difíceis e aflições, sobre os quais escreveram contos, poemas e hinos. Eu me agarrava aos seus pensamentos. Às vezes, repetia uma frase indefinidamente, como um mantra, simplesmente para manter a presença de espírito, enquanto cuidava dos filhos e dos afazeres domésticos. E funcionava. Parada ali, olhando para aquele passarinho, ouvi a consoladora voz do meu Salvador, com a qual estava tão habituada: “Você não é a minhoca, minha querida. Você é o pássaro. As chuvas e as tempestades que permiti caíssem sobre o seu mundo lhe oferecem um banquete que, sob outras circunstâncias, você teria de escavar para encontrar.” E naquele instante, minha perspectiva mudou. Delícias que teríamos de escavar para encontrar em circunstâncias normais, vinham para a superfície —dádivas especiais como estarmos mais próximos uns dos outros, mais amor e gratidão pelos nossos amigos e parentes, além de um desejo ardente de, por meio da oração, confiar a Jesus nossas necessidades e temores diários. E a chuva? Ainda não havia parado. Algumas de nossas orações haviam sido atendidas maravilhosamente (mudamos para outra casa e meu marido encontrara outro emprego) e isso nos animava, mas ainda tínhamos grandes desafios em outras frentes. Mas ali estávamos como passarinhos felizes e saltitantes, apesar da chuva, porque, por mais estranho que pareça, banqueteávamos em minhocas! P.S. E como se fosse um sinal, um dia depois da minha “revelação chuvosa”, uma criança de oito anos da casa vizinha me ofereceu um punhado de minhocas que se retorciam agitadas em sua mão e anunciou: “Tem muito mais debaixo daquele monte de folhas se você quiser”. Contentei-me com a metáfora. ***** Abalado pelas mudanças da vida Ajudar nossos filhos a lidar com as dores de crescimento causa em nós mudanças tão significativas quanto as que eles vivenciam. Quando as pessoas que nos são mais próximas passam por mudanças muito profundas, também somos afetados. Não podemos fugir das mudanças, mas podemos nos beneficiar ao máximo delas. Veja como: § Identifique as condições. Separe os aspectos sobre os quais você exerce algum controle dos demais e entregue todos a Deus que, em última análise, controla todas as coisas. § Entenda as condições. Faça a diferença entre os aspectos práticos e os emocionais, e lide com cada um segundo seus respectivos méritos. Juntos, podem ser difíceis de enfrentar, mas individualmente se tornam, de um modo geral, administráveis. § Mantenha a mente aberta. O que você tem feito ou como tem agido pode ter produzido bons resultados até agora, mas pode haver alternativas melhores. § Evoque a ajuda de Deus. As circunstâncias podem ser demais para você, mas não para Ele. “Para os homens isto é impossível, mas para Deus tudo é possível.” Esse é o fator Deus. § Permaneça positivo. Concentre-se nas oportunidades, não nos obstáculos. § Dê e receba apoio. Comunique-se com seus filhos e encontre formas que gerem benefícios que possam ser compartilhados por todos. § Tenha paciência. O progresso é, muitas vezes, um processo de três passos: um passo para trás e dois para frente. § Pense no longo prazo. “Aquele [Deus] que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus.” Extraído da revista Contato. Usado com permissão. |
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